Texto: A pequena graciosa


A pequena graciosa
por Gui Caetano

Nem mesmo meu vagar custoso e errante arrancou-me do semblante a esperança de te encontrar, perder-me em ti e contigo sonhar. Fora, no entanto, de tanto à sua procura andar, que me concebera a agoniante ideia do quanto havia percorrido. Naquele campo eterno de flores efêmeras, a brisa me fazia guiar como igualmente aos dentes-de-leão, que se alçavam do chão e em vão flutuavam, e no moinho brincavam antes de se dissipar. Havia muitos espinhos pelo caminho, e havia também muita chuva no horizonte, e pedras e raízes a perturbar, mas a flor mais sublime do campo deveria estar ali, em algum lugar. Tateei tão bem as belas flores que ocorreu-me de me machucar, e observei tão incansavelmente que, em minha mente, brotou uma confusão quase irresoluta. Não devo negar, apregoou-me somente um caloroso alívio quando, enfim, avistei a linda flor do campo. Não era dourada como as outras - continha a cor da neve que manchava o pico das montanhas, e era pequena, formosa e distinta, como a extinta ternura que nos acomete os tempos de hoje. Pois me estagnei diante de sua doçura e enchi-me de seu perfume, que me tirou o azedume do desespero de estar em meio a milhões de outras pétalas tão iguais, de outros aromas tão comuns. Fora assim que me apaixonei pela pequena graciosa. Ela era única, e era isso que me importava.


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