Empreitada
por Ana Machado
Basta que você olhe fundo nos olhos dela.
Não deixe que o nariz anguloso ou a testa singelamente protuberante te impeçam de olhar fundo no castanho lamacento de seus olhos. Não se deixe intimidar pelo pântano que leva até seu coração, nem pelo caminho tortuoso que te guia até a grande porta, te enchendo de pânico e asco daquele coração tão grande, e tão vazio - desolado.
Mas inspire fundo e encha-se de coragem. Lá dentro, através do grande salão de azulejos quebrados e lustres cheios de teias de aranha, através das escadarias que rangem sob seus pés, através das tapeçarias desbotadas e dos balaústres lascados há uma porta. E, atrás dela, aquilo pelo que vale a pena enfrentar tamanha empreitada.
Uma porta. Ela é simples, sem muitos arabescos, sem muitos rococós. Não há folheado a ouro e nem cortinas com incrustados de rubi. Mas, quem sabe, seja a mais importante porta, do mais importante cômodo de tamanho castelo.
Dentro dela, as paredes continuam mofadas e as janelas continuam embaçadas, mas uma criança - cheia de covinhas e sorrisos e sardinhas - brinca com uma bola colorida, que projeta no teto milhares de arco-íris.
É ali, naquele quarto, que a criança cresce e se desenvolve, no coração do castelo; pulsante.
Parabéns eu adorei o texto, pois o mesmo me levou a reflexão de que nem sempre aquilo que se pode ver sobre a "casca" de um individuo reflete sua realidade, ou seja, a muito escondido por trás de cada ser, e seu texto ilustrou bem isso para mim.
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