Resenha: Desastre - S. G. Browne

Título: Desastre

Título Original: Fated  

Autor: S. G. Browne

Tradução: Inês Pimentel

Editora: LeYa

Páginas: 271

Como sempre, fui atraída pela capa; o subtítulo também contribuiu para aumentar a minha curiosidade. Lendo a sinopse, imaginei uma história da qual gostei, então, após alguns meses, finalmente comprei-o e passei-o na frente de dezenas de outros livros que tinha para ler. Porém, me surpreendi mais uma vez. E, infelizmente, nem sempre a surpresa é boa.

Em um mundo onde sentimentos, caminhos e valores dos seres humanos são comandados por entidades superiores, o destino pode ser traiçoeiro. Conheça Fado, um imortal que designa sinas aos homens, mora num apartamento de luxo em Nova York e veste uma atraente roupa humana. Solidário com seus clients e apaixonado por uma vizinha, ele passa a burlar suas tarefas, alterar destinos e bagunçar as coisas no reino dos Céus. Com um texto leve, hilário e muito atual,Desastre vai fazer você repensar suas escolhas, acreditar no poder do amor e descobrir que até a Morte não é assim tão má pessoa.

O livro é narrado em primeira pessoa e, de fato, tem momentos bons, com trechos marcantes que fazem você repensar sobre várias coisas em relação a nossa sociedade. Porém, sou um pouco antiquada e achei a conotação sexual, assim como os momentos de sexo em si, exagerados nos primeiros capítulos (afinal, não é um livro erótico, certo?). Não ligo que um livro tenha cenas de sexo, acho normal, até “saudável”; o problema é que, nesse caso, parecia ser o foco principal da história. O que não deveria ser, não em uma ficção. Mas, esperançosa e sabendo que ficaria curiosa se não terminasse, continuei. O livro melhora, a sexualidade diminui e, por sorte, as boas colocações que fazem refletir continuam. Porém, mesmo ao terminar, não estava certa sobre o quanto havia gostado. Achei o final interessante, original e surpreendente, embora não soubesse dizer se havia gostado ou não dele, pois a atitude que leva Fábio a isso é desanimadora.

Minha primeira impressão era bem diferente, porque esperava um foco mais fictício, com mais explicações e apresentações dessa mitologia de potencial, criada por Browne. Porém, tive a impressão de que o romance foi enfocado como base principal e a mitologia em si era apenas algo que se desenrolava em plano de fundo, conduzindo a história de amor – o que não deixa de ser uma pena, porque a mitologia é bem original e poderia ter sido mais desenvolvida, mais explicada.

E por falar em romance, não posso deixar de dizer que achei o relacionamento de Sara e Fábio bastante forçado – apesar de eu ter realmente adorado o momento "brilho eterno de uma mente sem lembranças", como o próprio narrador diz. Quero dizer, é tudo muito rápido, muito certo, muito... dispensável, não consigo pensar em outra palavra.

Como já disse, há colocações irônicas e bem-humoradas que te conduzem a pensar sobre decisões, sobre destinações e sobre a sociedade em si; é inevitável e, para mim, confere alguns pontinhos positivos. Mas não tenho certeza se isso compensa o exagero da tentativa de usar conotação sexual como recurso humorístico, ou o romance forçado e de final, no mínimo, estranho.

Porém, apesar de estranho, é esse final que dá uma melhorada no livro e que me fez ter dúvida a respeito de como avaliá-lo. É um final surpreendente, isso é algo bom. A ironia de Browne também tem seu lado atraente, apesar da amargura. O problema é que para chegar nesse final temos um processo extremamente deprimente que transforma um personagem interessante em grande covarde. Por isso, acho que o final ousado não foi suficiente para dissolver o impacto da impressão inicial. Na verdade, até a capa deixou de ser tão atraente depois que eu achei várias versões parecidas, com as mesmas mãos, etc. Além disso, não tem nada a ver com a história (que asas são essas, alguém pode me explicar?).

O segredo desse livro, pelas outras resenhas que já vi por aí, é ir sem muita sede ao pote. Todos que esperavam muito, assim como eu, se decepcionaram, enquanto os que não esperavam nada, conseguiram se surpreender de forma positiva. Difícil de classificar, tudo que posso dizer com certeza é que o livro tem potencial e originalidade – e bastante –, mas poderia ter sido desenvolvido de outra forma que talvez o tornasse ótimo. Porque ele até pode ser bom, mas, bom não é ótimo, né?

Avaliação: ★★☆☆☆ (Razoável)

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